sábado, 9 de novembro de 2013

História da Dança do Ventre no Brasil



A história da Dança do Ventre no Brasil ainda é recente, datando de aproximadamente uns cinqüenta anos para cá. E pode-se dizer que provavelmente ela teve seu início quando os primeiros árabes aqui chegaram. Os primeiros imigrantes árabes vieram da Síria e do Líbano por volta de 1880, e se concentraram principalmente no estado de São Paulo, mais especificamente na capital.

A bailarina Patrícia Bencardini em seu livro “Dança do Ventre – Ciência e Arte” nos diz que: “A partir dos anos 50, uma grande população muçulmana entrou no Brasil, vindos de diferentes regiões do Oriente Médio. E, na década de setenta do século XX, novos imigrantes libaneses vieram para o Brasil fugindo da guerra civil, quando muitos encontraram parentes distantes que vieram no começo do século”.

Provavelmente este foi o caso da bailarina palestina SHAHRAZAD Shahid Sharkey que aqui chegou por volta de 1957. Muitas bailarinas acreditam que ela foi a pioneira desta dança no Brasil. Seu nome de nascimento é Madeleine Iskandarian. Shahrazad foi cabeleireira por 18 anos e passou a dedicar-se à Dança do Ventre a partir do final da década de 70 no Brasil, embora já dançasse profissionalmente desde os sete anos em diversos países árabes, como conta em seu livro. No Brasil, se apresentou em diversos restaurantes árabes, teatros e programas de televisão, além de ter concedido várias entrevistas. Publicou em 1998 o livro intitulado “Resgatando a Feminilidade – expressão e consciência corporal pela dança do ventre”, além de alguns vídeos com a didática que desenvolveu para o ensino de dança, com aproximadamente três mil exercícios criados por ela. A última edição de seu livro foi lançada na 17º Bienal do Livro em São Paulo. Sua dedicação à Dança do Ventre, além de incluir a formação de grandes bailarinas e professoras, incluiu, ainda, sempre uma luta pela valorização da dança e nunca por sua vulgarização.

No entanto, sabe-se que Zuleika Pinho foi a primeira bailarina a realizar uma apresentação de Dança do Ventre no Brasil, em um clube árabe chamado Homes, no ano de 1954. Nesta época Zuleika tinha apenas 14 anos: "Me perguntaram se poderia apresentar uma dança oriental, não tinha idéia do que era, mas aceitei", conta Zuleika. Nesta época, ela passou a se apresentar em vários restaurantes e programas de televisão, assim como aparecer em muitos jornais da época.

Mesmo assim, na década de 80, segundo a bailarina MÁLIKA, “a dança do ventre era muito pouco conhecida e difundida no Brasil”. Era difícil obter materiais para estudos, aulas e apresentações como discos, CDs, vídeos e roupas. A literatura também era escassa, pois segundo ela, “no Brasil não havia publicações sobre o assunto e escassas eram as publicações em inglês e francês”.
Para a bailarina, esta situação passou a se modificar a partir da década de 90 quando, no Brasil, começaram a surgir publicações sobre a Dança do Ventre em jornais e revistas, com o surgimento de eventos, concursos e desfiles, além de programas de televisão, rádio e internet tratando do assunto. Essa procura pela dança acentuou-se ainda mais após a exibição da novela “O Clone” pela Rede Globo de televisão.

Muitos profissionais dizem que não havia música árabe no Brasil, porque aqui não se produzia e não se vendia também. Os discos de vinil na época tinham que ser comprados fora do país.

De acordo com Jorge Sabongi, proprietário da Casa de Chá Khan el Khalili, no início dos anos 70 havia alguns poucos restaurantes árabes como Bier Maza, Porta Aberta e Semíramis, que atualmente não existem mais. Eles contavam com algumas apresentações de Dança do Ventre e alguns músicos árabes.
 
Um pouco depois, na década de 80, surgiram as primeiras bailarinas de Dança do Ventre brasileiras, que podem ser consideradas como a primeira geração de bailarinas no Brasil. Foram elas: Shahrazad, Samira, Rita, Selma, Mileidy e Zeina.

O primeiro vídeo didático de Dança do Ventre brasileiro foi lançado em 1993, pela Casa de Chá egípcia Khan el Khalili, tendo como professora a então já bailarina Lulu Sabongi. Desde então, muitos outros vídeos, e mais recentemente DVDs, têm sido produzidos no Brasil, tanto didáticos quanto de shows. Também muitos DVDs internacionais têm sido comercializados aqui, já que a procura tem sido cada vez maior.

A casa de chá egípcia Khan el Khalili foi inaugurada em 1982 por Jorge Sabongi e antes de completar dois anos passou a contar com apresentações de Dança do Ventre (por sugestão de uma casal de egípcios) uma vez a cada três meses. Até que apareceu Lulu Sabongi, que, após iniciar os estudos na Dança do Ventre, começou a se apresentar na Casa de Chá, cada vez com maior freqüência e com um público cada vez maior. Hoje a Khan el Khalili tem mais de vinte e cinco anos de existência. Além de contar com casa de chá, conta ainda com apresentações diárias de Dança do Ventre, oferece aulas, shows, produz Cds e DVDs, exportando inclusive para outros países.
 
Os primeiros Cds produzidos no Brasil vieram da família de músicos Mouzayek, liderada pelo cantor Tony Mouzayek. A coleção de Cds intitulada “Belly Dance Orient” encontra-se atualmente em seu 59º volume.

A família Mouzayek veio da Síria na década de 70 e aqui se instalou contribuindo para a divulgação da cultura árabe, principalmente da Dança do Ventre no Brasil. Além de músicos, são proprietários de uma loja no centro de São Paulo, a Casa Árabe, que existe há mais de quarenta anos e vende diversos artigos para Dança do Ventre, como CDs, DVDs, roupas, acessórios, livros e instrumentos musicais.
 
Um importante e grande evento de Dança do Ventre que ocorre anualmente no país é o “Mercado Persa”. Ele ocorre na cidade de São Paulo desde 1995 e é caracterizado por promover muitas apresentações de dança oriental (amadoras e profissionais) e por vender muitos artigos especializados às suas praticantes. O número de participantes deste evento vem aumentando desde seu surgimento, tanto que já conta com dois palcos e não mais com um como no início. O que significa que durante doze horas, das 10 às 22, acontecem apresentações ininterruptas de Dança Árabe em dois palcos simultaneamente. Este evento foi criado pela bailarina Samira Samia e é dirigido por sua filha, a também bailarina, Shalimar Mattar. Foram, ainda, elas que criaram o primeiro jornal sobre o assunto no Brasil “Oriente Encanto e Magia”, com publicação mensal, existente desde o ano de 1995. Sua distribuição é gratuita e consta de matérias, artigos, fotos, divulgação de eventos e de profissionais da área.

O primeiro livro sobre o assunto, “Dança do Ventre – uma arte milenar”,  foi escrito pela bailarina e professora Málika, em 1998, pela Editora Moderna. Foi lançado na Bienal do mesmo ano, mas atualmente se encontra esgotado.De acordo com a autora, o livro surgiu “de um caderno de estudos, onde costumava anotar passos, dúvidas, temas a serem pesquisados e/ou aprofundados, curiosidades etc”. Hoje em dia não nos deparamos mais com muitos dos problemas que havia antes, como a falta de Cds, vídeos, figurinos, professoras, bailarinas na área de Dança do Ventre. Muito pelo contrário, há uma abundância grande de material para estudos e pesquisas, principalmente com a internet. Nela há textos, fotos, divulgações de eventos, bem como vídeos.

Há uma estimativa de que o Brasil é, junto com os Estados Unidos, um dos países ocidentais com o maior número de praticantes do mundo. De fato, a mulher brasileira se identifica com as características da Dança do Ventre e, talvez, por esse motivo ela faça tanto sucesso aqui.
Atualmente no Brasil as aulas de Dança do Ventre são oferecidas em diferentes espaços como em academias de ginástica, clubes, escolas especializadas, escolas de dança, assim como em espaços esotéricos e centros culturais. Muitas revistas e livros já foram escritos sobre o assunto, não se esquecendo de que a divulgação maior fica por conta da internet.

Apesar de pequena ainda, há uma participação da Dança do Ventre no meio acadêmico, como algumas publicações de monografias, artigos científicos e dissertações de mestrado.

Além disso, nosso país conta, ainda com muitos eventos anuais que prestigiam a Dança do Ventre, assim como workshops nacionais e internacionais realizados, principalmente, na cidade de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Fonte:
http://www.centraldancadoventre.com.br/a-danca-do-ventre/a-danca-do-ventre-historia

Nenhum comentário:

Postar um comentário